A fome é um crime ético. A frase eternizada no Monumento Contra a Fome reafirma o compromisso da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com o conhecimento e a cidadania.

Há 31 anos, Herbert José de Souza, o Betinho, visitou o Campus Trindade. Criador da maior campanha de combate à fome e à desigualdade no Brasil o ativista e sociólogo teve sua luta por justiça social reconhecida pela UFSC. Foi em 13 de abril de 1994, que a Universidade concedeu ao ilustre sociólogo Betinho, o título de Doutor Honoris Causa, após aprovação unânime do Conselho Universitário (CUn). A indicação do Centro de Ciências Humanas aproximou a universidade da comunidade externa em uma época onde o país vivia um movimento pela cidadania.

Em entrevista a Agecom, Antônio Diomário de Queiroz, reitor da UFSC entre 1992-1996, explicou que a cerimônia feita na Praça da Cidadania marcou o compromisso de unir a universidade à comunidade local, tornando “a cidadania um dos preceitos respeitados e praticados na universidade”. Diomário recorda que Betinho se destaca não pelo profissional, mas pelo humano que buscava ser. “O mérito dele se deu pelas suas qualificações enquanto pessoa. Uma pessoa aberta à cidadania, ao social, à cultura e à universidade”.
Confira a entrevista na íntegra:
O homem que “nasceu marcado para viver” atraiu cerca de 4 mil pessoas para a Praça da Cidadania – nomeada com a vinda dele, com o objetivo de firmar o compromisso social da Universidade – na oportunidade discursou sobre a situação atual do país ao inaugurar o Monumento Contra Fome, construído pelo artista plástico Plínio Verani Júnior, com pedras coletadas de diversas partes da ilha para “remeter ao sentido de permanência, de que alguém passou, está ou esteve ali”, e carrega a frase que marca sua luta: “A fome é um crime ético”.


Betinho sempre acreditou na solidariedade como um transformador social. Cinco princípios pautaram sua luta social: a liberdade, a igualdade, a solidariedade, a participação e o respeito à diversidade. Em 1993 criou a Ação e Cidadania contra Fome, Miséria e pela Vida, que dividiu em duas fases: a primeira focada na distribuição de alimentos e os estudos das causas estruturais da miséria e a segunda voltada para geração de empregos e a proposta de diminuir os encargos sociais por um ano. Betinho ainda pensava numa terceira fase, a tomada de consciência, a qual questionava se seria a felicidade.
Sigam suas próprias consciências, só assim serão vocês mesmos.
Betinho
Nascido em 3 de novembro de 1935 em Bocaiúva – Minas Gerais, Betinho era portador de hemofilia – doença genética e hereditária que afeta a coagulação do sangue, causando sangramentos excessivos – e foi em uma transfusão de sangue que contraiu o vírus HIV. Em 1971, Betinho foi exilado no país devido à ditadura militar de 1964. Por nove anos morou no Chile, no Canadá e no México. O sociólogo é citado na música “o bêbado e a equilibrista” interpretada por Elis Regina antes dele retornar ao Brasil, quando lança a campanha Ação e Cidadania.

Meu Brasil que sonha
Com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora a nossa Pátria, mãe gentil
Choram Marias e Clarices
No solo do Brasil
“O bêbado e a equilibrista”, composição de Aldir Blanc e João Bosco
Foto: Betinho deixa Florianópolis após dois dias. Foto: Reprodução/Zero
Participou da fundação da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABI) em 1986, ajudou a fundar o Instituto de Estudos das Religiões e o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) em 1981. Herbert José de Souza morreu em 9 de agosto de 1997 no Rio de Janeiro, mas o legado deixado por Betinho se mantém presente na Universidade.
Texto: Luiz Cucco (estagiário da Agecom) supervisionado por Ricardo Torres.
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