
O Campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no bairro Trindade está localizado em uma área onde há menos de cem anos existia uma fazenda. Fundada em 1960, a sede da UFSC ocupa uma área superior a 1 milhão de metros quadrados. A comunidade acadêmica é composta por cerca de 50 mil pessoas. Prédios administrativos, centros de ensino, restaurante, hospital, biblioteca, quadras de esportes, centro de eventos e templo ecumênico. Cada praça, monumento, rua ou ainda placas informativas, não estavam aqui há três gerações. Mas, há uma construção que resiste, que abrigou famílias, que foi salas de aula, que viu a universidade surgir e se desenvolver.


O Casarão da Botânica – como é popularmente conhecido – está localizado no Campus Trindade pela entrada da Carvoeira. Construída em meados de 1930, a casa de dois pisos tem 223,92 metros quadrados, portas e janelas em madeira original e cobertura de telhas da época. No início foi a moradia de diretores da fazenda e suas famílias, depois a moradia de estudantes e com a saída deles ficou sem uso.

O Casarão da Botânica – como é popularmente conhecido – está localizado no Campus Trindade pela entrada da Carvoeira. Construída em meados de 1930, a casa de dois pisos tem 223,92 metros quadrados, portas e janelas em madeira original e cobertura de telhas da época. No início foi a moradia de diretores da fazenda e suas famílias, depois a moradia de estudantes e com a saída deles ficou sem uso.
O veterinário da Fazenda Assis Brasil Jorge José de Souza, um dos fundadores da antiga Faculdade de Farmácia e Odontologia e da Faculdade de Ciências Econômicas, em entrevista à professora Roseli Mosimann, explicou que, “o espaço passou por uma reforma na estrutura e manutenção dos jardins após receber o patrocínio da reitoria e verbas do convênio firmado com o extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) para em 1970 ser feita a mudança do Herbário e o material pertencente ao Centro de Estudos e Pesquisas em Engenharia e Defesa Civil (CEDEC)”.

A história da Fazenda Modelo Assis Brasil se entrelaça com o desenvolvimento da UFSC em Florianópolis. Originalmente, a fazenda era uma vasta extensão de terras no centro da Ilha de Santa Catarina, com sua sede próxima à Igreja da Trindade. A única edificação da época da fazenda, conecta o presente da universidade ao passado da região. É como se as paredes ainda guardassem as vozes das aulas, os risos dos estudantes, os passos de quem construiu esse legado. O espaço que foi utilizado em atividades de pesquisa, extensão e ensino abrigou a primeira reitoria do campus na década de 1960.


“Com a instalação oficial da universidade (22 de março de 1962), as ervas daninhas, acompanhadas, às vezes, por jararacas, foram substituídas por flores e nativas florestais.
Moacir Loth, jornalista da Agecom
O campo virou campus.”
Foi em 1984 que o casarão tornou-se a Coordenadoria Especial do Horto Botânico, passando a fazer parte do Centro de Ciências Biológicas (CCB). Nove anos depois, em 1993, ocorreu a mudança de nome para Departamento de Botânica. No início havia as salas de microscopia, de microcomputação e dos professores, o laboratório de ecologia, de micologia, de anatomia vegetal, de sistemática e de sementes, e o herbário. A transferência das salas e laboratórios para o prédio aos fundos aconteceu em 2003. Atualmente, a edificação abriga órgãos administrativos e uma sala de aula.



De 2010 a 2018, a construção permaneceu com piso superior interditado, depois de parte do forro danificado pelos cupins ceder. No ano de 2017, um mutirão organizado pelo departamento, reuniu estudantes e servidores na raspagem das paredes que acumularam camadas de tinta. Para a nova pintura foi optado não aplicar massa corrida, sendo feita sobre o relevo da parede para “preservar as marcas da história”, explica o chefe de departamento, Rafael Trevisan. As floreiras externas foram impermeabilizadas para evitar a passagem de umidade para as paredes. As janelas com a parte basal apodrecida devido a umidade, tiveram apenas a parte danificada restaurada, mantendo as características da época. O banheiro, que também era utilizado para guardar arquivos e equipamentos, passou por uma transformação. “Durante a reforma procuramos manter o máximo da originalidade”, diz Rafael. A reforma durou três anos e mobilizou cerca de 50 voluntários.
Casarão abrigou Herbário Flor O Herbário Flor foi criado nos anos de 1960 pelos professores Ranulpho José de Souza Sobrinho, Antônio Bresolin e Roberto Miguel Klein. O herbário permaneceu por alguns anos no segundo piso do casarão, por falta de espaço documentos de botânica desceram para uma sala maior no térreo – onde hoje é a sala de pós-graduação. ![]() Em 25 de abril de 2025, o Herbário Flor contava com 78.672 registros, sendo 65.360 plantas, 11.350 fungos e 1.496 algas – o primeiro registro é do dia 22 de abril de 1962, Alternanthera reicheckii Briq. da família AMARANTHACEAE, foi coletada pelo Padre Raulino Reitz em Porto União – desses 753 são tipos. Tipos nomenclaturais, ligam o nome científico a um exemplar real. Ou seja, quando uma nova espécie é descoberta e descrita pela primeira vez, ela precisa de um nome que ficará permanentemente associado a um tipo (amostra de exsicata). Isso garante uma referência original, mesmo que ocorram mudanças posteriores na definição da espécie. Um exemplo de Typus encontrado no Herbário Flor é o Campylocentrum insulare, descoberta em 2013 pelo pesquisador Carlos Eduardo Siqueira e Edlley Pessoa. ![]() Na época não havia um resfriador, e as espécies armazenadas em pastas de cartolinas eram protegidas da proliferação de insetos com o uso de naftalinas. Atualmente os arquivos históricos de plantas, fungos e algas, são protegidos em uma sala resfriada a uma média de 18ºC e umidade controlada entre 60%. Cada pasta possui uma amostra de exsicata – que recebe esse nome após o processo de desidratação – primeiro é coletada na natureza, em seguida é prensada em duas folhas de jornal para mantê-las planas, depois colocada em local arejado ou estufa para que a água da amostra seja evaporada. Após este processo, a exsicata é fixada à cartolina, juntamente com uma ficha contendo as informações sobre a coleta e, então, armazenada ao Herbário Flor. “A planta é um documento onde você consegue saber quem existia, em que época e em que local, podendo fazer inferências em torno da mudança da biodiversidade ao longo do tempo”, explica Rafael. |
Campylocentrum insulare é a menor flor de orquídea do mundo. Acervo Fotográfico Agecom/UFSC
Texto: Luiz Cucco (estagiário da Agecom) supervisionado por Ricardo Torres.
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